Antes
Durante
Depois
Rua Dos Barreiros N. 4
Intervenção da Artista Fátima Spinola na porta 4 da Rua dos Barreiros.
Look Beyond the Happy Ending
Nas minhas deambulações pela zona Velha dei de caras com várias portas pintadas e algumas instalações, fiquei logo enamorada pelo projecto e pela área de intervenção. Estava perante uma mudança... O peso das ruas parecia desaparecer à medida que as portas se abriam à imaginação dos que criavam e dos que as olhavam.
Vi-a como espécie de “obra aberta” (como um dos títulos do escritor Umberto Eco) mas, por motivos bem diferentes. Ao longo deste projecto fui-me apercebendo, que as principais portas que abriram, eram as da própria rua. As portas invisíveis e pesadas que eram diariamente penetradas por moradores ou por quem procurava o comércio, de tudo e mais alguma coisa, começaram a desaparecer.
Para minha grande felicidade, não tardou muito a chegar o convite de Jose e as nossas conversações levaram-me a compreender melhor os propósitos e o valor desta intervenção única e do espaço histórico que a acolhe.
Da Zona velha podemos dizer que recebeu os primeiros colonos da Ilha da Madeira, gente humilde que veio refazer as suas vidas numa nova terra, protegidos pela montanha e com uma linha de mar mesmo ao pé. A Rua de Santa Maria foi a primeira artéria do Funchal e por isso mesmo arca com o peso da história que acompanha a presença humana na ilha.
De todas as reflexões sobre este espaço, o que mais me cativa são as influências mútuas entre o espaço e as pessoas. Tendo havido tantos contextos ao longo do tempo, optei por me debruçar sobre as relações humanas associadas ao local de intervenção deste. Um antro de vícios, comércio e degradação seria a descrição mais comum das últimas duas décadas. No entanto, há já alguns anos, sentem-se ventos de mudança. Maior preocupação das entidades na, preservação do património arquitectónico e cultural da zona e na transformação do contexto social.
Look Beyond the Happy Ending
Na minha contribuição para este projecto, entendo a “porta” enquanto charneira entre o espaço privado e o espaço público. A porta como símbolo, ora cria ligações, ora as desfaz, mediando constantemente o relacionamento entre o espaço e os que nele habitam.
Das portas que aguardavam nova vida a que me enamorou está situada na Rua dos Barreiros, perpendicular à Rua de Santa Maria. A nº 4 é uma das portas laterais do Restaurante “Violino”, nela não entra nem sai ninguém, é uma simples porta do gás. Na sua simplicidade encontrei a localização exacta para o meu projecto. Gostei das dimensões da porta e do facto de ser mais larga e mais lisa do que a maioria. A saída de ar no cimo da porta tinha o potencial de ligação entre o interior e o exterior e esse dinamismo foi a mais-valia, para a decisão final.
Reflecti sobre a sua localização e sobre o edifício que a albergava, sobre o contexto da zona e sobre a sua função. Das várias ideias surgidas, seleccionei duas para estudar detalhadamente. A primeira abordagem tinha uma base cómica com relação directa à função do edifício, uma lagosta gigante a tentar escapar pelas frinchas acima da porta, faria a ponte entre o interior e exterior do restaurante.
A outra hipótese estudada teve para mim um maior interesse devido à amplitude de interpretações e Look Beyond the Happy Ending faz a ponte entre o espaço público e o espaço privado. Fala de amores dados e de amores vendidos, dos beijos roubados, na soleira da porta… À chegada ou à despedida, assumidos ou escondidos. Acima de tudo, fala do amor que existe, independentemente do final que o espera!
Facebook da Fátima Spinola
Making-of da porta AQUI!